segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Onímoda

Era uma vez, como nos contos de fadas, uma menina que tinha medo da felicidade. Alguma bruxa má, em algum dia de sua infância, abrupta e categoricamente a disse que toda a felicidade um dia tinha fim. E que só o grande choro nunca cessa. A partir de então a menina de cabelos de vento e sorriso amalgamado chora e sofre. O seu choro não é de tristeza nem de mágoa ele, na verdade, é a máscara de sua satisfação. Ela chora tentando enganar a tristeza e fazer-se feliz. Toda a felicidade que um dia sonhou pra si, ela tem nas mãos, mas, só será feliz, quando o grande sofrimento do amor se fizer.
Para T.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Ao Dom Casmurro

O Jornal Extra publicou, pelo fato da estréia de "Capitu", o seguinte comentário de um espectador:

O cenário é lindo, o figurino é deslumbrante, a luz é sensacional..., mas “Capitu”, que estreou na terça-feira na Globo, fica muito aquém da grandeza de Machado de Assis. A microssérie é lenta, com um roteiro confuso e alguns recursos que não dizem a que vieram.
Parece que tentaram fazer teatro na televisão, só que não dá. O ritmo precisa ser diferente. No teatro, o espectador está lá parado, com todo o foco voltado para a cena e sem interrupções. Enquanto isso, na TV, além da gama de canais que está a um clique, a história é sempre interrompida por um intervalo comercial.
Os atores dão conta do recado, principalmente Michel Melamed, mas o texto confuso e sem uma seqüência linear dificulta a compreensão do que se está tentando dizer. No fim, corre o risco de agradar apenas aos intelectuais e àqueles que tem o hábito de gostar de tudo que é difícil de se entender. Só para “mostrar” que é inteligente. Vale lembrar que Machado de Assis, em sua época, foi um autor popular e famoso por usar uma linguagem de fácil compreensão. Merecia algo parecido.
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Profundamente tocado com o resultado da microssérie e acarinhado com a possibilidade de ver um trabalho de tamanha qualidade na TV, respondi:
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Em palavras do próprio Machado, “a natureza é simples. A arte é atrapalhada.” Fazer arte, em qualquer momento da História, nunca foi fácil; lidar com signos para se fazer compreender ou para, no mínimo, incitar um raciocínio qualquer é sempre uma batalha; quando o objeto da desta é morador do imaginário popular e que, por si, já gerou tantas discussões, controvérsias e reflexões esta batalha ganha proporções monumentais. O desafio de Luis Fernando Carvalho e sua equipe é levar a termo uma versão para TV de “Dom Casmurro”, um dos romances mais lidos dentre os considerados clássicos – escolhido para homenagear o centenário de morte do não menos famoso, Machado de Assis – então batizada com o nome de sua principal peça, Capitu. A história de Capitolina e Betinho é, sem dúvida, uma das mais belas e densas páginas da nossa literatura; página essa que permeia as rodas de colégio, as cátedras, as conversas corriqueiras e, por isso, é motivo, sempre, de grande expectativa.
É indiscutível que para a literatura mundial a obra de Machado de Assis é ímpar e de uma importância incalculável, bem como, para os atuais módulos de criação e execução em voga na TV brasileira, o é a experiência de Luis Fernando Carvalho. Não há como juntar três lugares tão extensos e profundos como a literatura, a televisão e o teatro e sair impune de críticas e de erros; mas, não há como, simplesmente ignorar a importância de tal junção. Ao meu modo, me parece que o resultado do laboratório é bem satisfatório, no mínimo, pelo fato de criar uma nova linguagem estética e literária para um veículo que nos viciou em dramas cotidianos.
Não me parece honesto julgar uma platéia por incapaz e/ou canhestra, já que é dela que depende, não só o teatro, mas a literatura, a TV, a música, o cinema, as artes visuais. Neste mesmo romance (como em muitos outros), Machado, com suas sagacidade e inteligência, por várias vezes dirige-se diretamente ao seu leitor – um gesto, digamos, incomum numa literatura cartesiana – criando, com isso, um novo formato de escrita e incitando no leitor uma nova percepção sobre aquela arte, a literatura. Logo, partir para uma crítica de qualquer obra que cause estranhamento, não pode ser um simples juízo de valor moral ou estético e/ou por uma questão de gosto e desgosto. As soluções encontradas pelo diretor e por sua equipe – mais do que capacitada para cumprir as funções que lhe são determinadas –, no mínimo, esperam um público que não receba as informações confortavelmente, mas, como estímulo e que estes estímulos o evoquem o seu momento de leitura particular da obra machadiana; não dar rostos a uma multidão de passantes, fazendo-os com bonecos de papelão, por exemplo, permitem que o espectador, além de dar o rosto me melhor lhe aprouver àquela figura, reconheça o mecanismo de feitura da própria cena e recrie aquele ambiente com o mínimo de lirismo ao invés de, meramente, observar como uma centena de atores/figurantes vestidos à moda da época transitando de cá para lá numa rua qualquer do Rio Antigo.
Parece-me, lendo o texto ao qual respondo, que há alguns equívocos no que diz respeito a alguns “verbetes”, por assim dizer. O teatro é a arte onde o olhar do espectador está mais flutuante e vulnerável a qualquer reflexo. É pensando neste comportamento do espectador que está ali, não parado, mas em atividade intelectual, que Gertrude Steiner – e este é só um dos exemplos; posso citar Bob Wilson, pra trazer a experiência para mais próximo do momento da escrita – propõe uma cena teatral que se confunda com uma paisagem e que o espectador, dela, escolha um ponto para fixar sua atenção ou não; mesmo com uma paisagem em cena, a sua disposição, o espectador pode querer olhar para o urdimento, para a maquinaria, para o espectador ao seu lado, para o programa da peça. A televisão, por sua vez, já conta com o privilégio de poder selecionar, ao máximo, o que o olho de espectador vai perceber e se utiliza disso com maestria, inclusive, escolhendo o melhor momento para entrecortar a história contada com um intervalo comercial – necessário, já que a emissora é uma empresa e precisa se sustentar e, ao contrário do teatro, o espectador não paga ingresso para acompanhar a sua programação e necessário para que a própria obra aconteça e cause sua esperada catarse a cada momento. Interromper a cena é um recurso que Brecht já usava em seu teatro – claro que guardadas todas as diferenças.
Ainda falando dos “verbetes”, parece haver uma confusão entre o que é “popular” e o que é “populista”. É óbvio que para a compreensão plena de todos os recursos usados por Carvalho em sua microsérie é preciso o mínimo de conhecimento artístico e de alguma sensibilidade – o que pode ser encarado como uma certa intelectualidade –, assim como para compreender, plenamente, a obra de Machado. As discussões sobre o termo “popular” são sempre longas e dúbias, mas, vamos tratá-lo, aqui, como sendo a expressão de alguma coisa “agradável ao povo” (BUENO, Silveira: 1996, 516). O texto que origina esta resposta me parece solicitar, no seu último parágrafo, por uma linguagem que “procure se identificar com as camadas populares; [fig] demagogo” (IDEM), afirmando que assim o era a obra do criador de Capitu e Bentinho. Machado, ao contrário de Aluísio de Azevedo (autor de, entre outras coisas "O cortiço" e "O mulato"), por exemplo, sempre narrou, em suas histórias, uma certa burguesia carioca alfabetizada, com piano na sala e casas de verão na serra e era essa mesma burguesia que o lia com freqüência – tendo contato aos seus textos jornalísticos, aos seus romances e as suas peças. Era essa mesma burguesia que formava a roda de críticos e intelectuais em voga e que, então, o diziam popular. A microssérie de Luis Fernando Carvalho parece-me ter, imediatamente, um alcance muito maior – e falo de camadas sociais – do que a própria literatura machadiana, até hoje.
Para finalizar, me utilizarei de um texto de Chico Buarque e Ruy Guerra que diz: “é muito fácil criticar comodamente sentado em uma poltrona bebendo genebra e arrotando arenque.”

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Declaração

Eu, Jefferson Almeida de Souza, 20 anos, solteiro, pardo, com RG, CPF e residência fixa, declaro, para os fins devidos, que um fato é apenas um fato, nada mais que um fato.
Fato: é noite.
Fato: luzes.
Fato: gente.
Fato: escada.
Fato: chão.
Fato: eu nunca.
Fato: sofá.
Fato: três.
Fato: bom.
Fato: bem bom.
Fato: manhã.
Fato: to be continued?

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Bula

... não sei, achei que fosse bom ter um post com esse título, afinal, é importante ter títulos geniais pra tudo, afinal, são os títulos que tudo vendem e que a tudo chamam, afinal, somos atraídos por boas palavras sendo bem usadas, afinal, é pensando nisso que uma língua é construída, afinal, sempre é preciso falar mesmo que falar não comunique, afinal, como diria o poeta - e a Cássia Eller - palavras apenas palavras, afinal, quem tem boca vai a Roma, afinal, deve ser difícil chegar lá sem falar nada, afinal, Roma é longe, afinal, fica em outro continente e tem um oceano de separação, afinal, é preciso acabar com este texto, afinal, as pessoas não têm o dia inteiro pra ler verborragias inúteis, afinal, tudo na vida é ocupação, afinal, ao final: fim.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Em minhas palavras

Há tempo procuro por minha criança. Ela partiu. E quando a busco, e a encontro, ela foge. acho que minha intimidade a assusta. A falta de fantasia a repreende. A ilusão de tê-la perdido a afasta de mim. acho que é caminho sem volta. Eu a perdi de vez.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Em palavras alheias

Já não sinto amor, nem dor, já não sinto nada
Socorro, alguém me dê um coração
Que esse já não bate, nem apanha
Por favor, uma emoção pequena
Qualquer coisa

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Sem título

... e sem corpo também.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

É...

Pode ser que utilize este espaço pra falar de utilidades, de futilidades - que não deixam de ser úteis a quem as quer assim - de neutralidades, de cidades, de sensações, de coisa alguma, para citar os outros, para incitar aos outros, para provocar mesmo que nada povoque em ninguém. É, enfim, um espaço.

Eu, antes de começar a escrever, pensara em ser demasiadamente prolixo, mas