quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A Narciso

Os espelhos devem ter alguma espécie de encantamento que não sei.
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"Deve haver algum sentido obscuro nisso", mas aquela imagem (aprisionada) que nunca está lá, exceto quando uma imagem (livre) se põe a sua frente, me pareceu mais forte. Olhei.
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Os espelhos devem ter alguma espécie de encantamento que não sei.
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"Deve haver algum sentido obscuro nisso", mas aquela imagem (aprisionada) que nunca está lá, exceto quando uma imagem (livre) se põe a sua frente, me pareceu mais forte. Olhei.
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Os espelhos devem ter alguma espécie de encantamento que não sei.

domingo, 27 de setembro de 2009

Citação:

"Transformaram-se não apenas as cidades [...]. Modificaram-se também os costumes, evoluíram os homens..."
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Será, doutor Ezequiel Prado?

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Conclusão dois:

amizade tem limites.
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[inclusive as ilimitadas.]

domingo, 20 de setembro de 2009

Espelho

Eu passei por tantas mortes e quase não chorei. Mas, às vezes, dependendo de como o sol se põe por trás da ponte ou de como as nuvens se debatem formando espirais de chumbo no céu, aí eu choro... Um choro que me sacode, que vem em soluços. Eu me entrego sem resistência, em espasmos de tristeza. Eu choro pelo fim da inocência, pela escuridão do coração humano.
Melchior Gabor

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Post comemorativo

pelo aniversário de uma certa Srtª. DuBois.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Luto:

Ailce, pela beleza das rosas e pelo ensinamento displicente.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Aforismo um:

Um oxímoro vital*:
[texto em aberto, ou melhor, em progresso, afinal, pensamento...]
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Naquela visão mais clássica do que, ainda, chamamos de teatro, uma regra sempre foi categórica: toda e qualquer peça deve ser dotada de um conflito.
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"Um bonde chamado Desejo" parece ser um dos melhores textos pra exemplificar essa regra, em vários níveis. Não bastasse a batalha constante entre uma Blanche-presente e uma Blanche-em-devaneio - esta não sendo, em nenhuma hipótese, menos real ou menos densa do que aquela -, a peça é assolada, quase que inteiramente, pelo embate dessa Blanche bipartida com o seu (vamos chamar assim, por enquanto) antagonista, Stanley Kowalski. Os dois, num primeiro momento, são contrários desde o âmbito mais simplório: os gêneros, mas, essa contrariedade parece parar por aí. A Blanche-sexo-oposto não é suficiente para perturbar o gên macho-dominante de Stanley, acostumado a lidar com as mulhres "desde os primeiros anos de maioridade, o centro da sua vida [sendo] o prazer com as mulheres, dando e recebendo, não com débil condescendência, subserviente, e sim com o poder e o orgulho de um galo de bom penacho em meio às galinhas." [1]
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É, justamente, a este segundo conflito que quero me ater. Este que parece ser a pedra fundamental do drama realista de Tennessee Williams e que, como pretendo mostrar, não deixa de ser um confronto de iguais, logo, problemático para ser enquadrado na categoria de "oxímoro" e, só por isso, nenhum outro termo se mostra mais pertinente já que é por conta da igualdade que o confronto se dá.
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A peça é localizada na New Orleans de final da década de 1940 com todas as questões sociais e econômicas do pós-guerra. Stanley Kowalski é apresentado ao público, logo no primeiro momento da peça, como um caçador "trazendo pra casa a carne crua da matança na selva"[2], como apontará Blanche posteriormente. Numa leitura menos atravessada que a da professora, temos, ali, a figura do provedor, certamente, carregado em algumas cores: toda a sua brutalidade é dada a perceber na primeira entrada da personagem pelo fortíssimo signo que é o seu pacote ensanguentado. Não poderia ser diferente. Se Stanley não é lido, inicialmente, como um bruto ou, como gosta de chamar a aristocrata decaída, um "sobrevivente da Idade da Pedra"[3], não faz o menor sentido a entrada tão marcada de Blanche, momento em que toda a ação da peça parece parar. Posso dizer que esta entrada é, como Barthes entende na fotografia, um puctum, mas, só o é porque o espectador lê, naquela figura incrédula, a fragilidade de uma "mariposa", como descreve a rubrica da primeira aparição de Blanche. Os dois são colocados, então, em instâncias completamente opostas: ele, o rude; ela, a frágil.
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O primeiro contato de Blanche e Stanley, ainda na Cena 1, parece reforçar esses lugares. Ele, inocente da sua interlocutora, tenta um contato menos formal, logo, mais íntimo, deixando claro, ainda, esses lugares, tão distintos, ocupados por ambos (apesar de nós já termos conhecido uma das facetas cruéis da Srtª. DuBois). Diz ele, depois de ter tirado a camisa, esmurrado a porta do banheiro e berrado por Stella, apenas como uma informação, já que, em nenhum momento, lhe passou pela cabeça mudar de atitude: "Acho que você vai levar um baque comigo, porque eu não sou do tipo refinado."[4] Ela, por sua vez, sabendo (por ora, sozinha, já que a platéia não conhece seu passado ainda) de todas as complicações que podem surgir de uma exposição precipitada, detém-se o máximo possível, em cumprir as formalidades.
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A cena seguinte mostra o lado intransigente de Stanley, retoma a sua relação com Stella, mais uma vez, apontado para o seu caráter de macho-dominante, revela um lado impulsivo/bricalhão de Blanche - dando pistas do seu passado através de uma acusação displiscente de Stanley - bem como aponta um caminho para ela que, logo, será descartado pela impossibilidade de ser segura e dona de si (como ela se mostra durante toda essa cena, mesmo quando parece perder o controle ao ver Stanley segurando as cartas do seu jovem esposo suicida) nas sircunstâncias, psicológias e financeiras, em que ela se encontra. Aqui o objeto do embate é palpável: Belle Reve, propriedade da família de Blanche e de Stella (logo, de Stanley já que são casados em comunhão de bens e estão, naquele Estado, regidos pelo Código Napoleônico que prevê que tudo o que pertence a esposa é do marido e vice-versa), foi perdida e Blanche não tem, ou não mostrou, os papéis oficializantes da venda nem a verba da mesma. Ela bebeu a fazenda ou a gastou em roupas; essa é a hipótese de Stanley (nós já sabemos que a fazenda se foi em funerais e receitas médicas, pode não ser verdade, mas, é a informação que nós temos e nela devemos acreditar) que vai a termo na investigação dessa história. É o primeiro confronto dos dois. Blanche, num gesto quase alentador, tira da mala o peso de anos de história em documentos e repassa a Stanley. Ela vence. Nesse confronto não há oposições, ou melhor, as forças contrárias têm a mesma energia e agem na mesma intensidade, apesar de ser evidente o maior esforço de Stanley em sair vitorioso. Há, de qualquer maneira, um desejo pelo esclarecimento que é inerente a qualquer ser humano e que, nesse caso especificamente, envolve uma herança (capital). Stella não cobra explicações por ter prcebido o estado deplorável da irmã, por estar sensibilizada pela gravidez e por saber que, de qualque maneira, com ou sem Belle Reve a sua vida vai continuar.
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Ainda na cena dois, um outro objeto do desejo de ambos aparece e é aqui que a grande batalha começa. Stella, a "irmãzinha" de Blanche ou a "pequena" de Stanley, é o prêmio principal. Além de precisar engolir a seco a primeira derrota (aqueles documentos são, seguramente, a comprovação de que, pelo menos dessa vez, Blanche não tem culpa), Stanley se vê furtado: sua mulher sairá de casa com Blanche unicamente pela possibilidade de a irmã mais velha não aceitar o jogo de pôquer que ali acontecerá. É a primeira vez que Blanche, não propositalmente, invade o espaço de Stanley; enquanto ela estiver ali, o jogo de pôquer será quase uma atividade ilícita, inaceitável. Dois a zero para Blanche.
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Algumas rodadas e muitas doses depois, começa a terceira cena da peça (aquela que, em princípio, seria A PEÇA: A noite de pôquer). Stanley está com seus amigos, alterado pelo álcool e pelo fato de não estar indo bem no jogo (por azar ou por estar pensando naquela visita inesperada e perturbadora) e as duas voltam para casa, alegres, o que incomoda profundamente Stanley que vai, num crescente de equívocos, tentar [re]demarcar o seu território. 1) Ele agride Stella ao dizer que vai jogar até quando tiver vontade, Blanche ao não permitir que ela sente-se a mesa e a ambas ao pedir que elas, novamente, saíssem de casa e fossem para a casa dos Hubbel, no andar de cima; 2) Ele dá uma lambada na coxa de Stella: atitude que ela, assumidamente, não gosta, mas que, para ele, funciona quase como que um carimbo de propriedade; 3) Ele, forçada e agressivamente, desliga o rádio que Blanche há pouco ligara; 4) Não satisfeito ele atira o rádio pela janela; 5) Ele agride Stella fisicamente; 6) Ele agride todos os seus amigos e quase que os obriga a ir embora. É uma batalha solitária. Stanley não percebe, mas, nesse round, Blanche não estava no ring. Ele perde para ele mesmo. A coisa só não fica pior graças a imensa [com]paixão de Stella que ama esse homem incondicionalmente. Stanley consegue virar o jogo a seu favor, pelo simples fato de se mostrar desarmado e vulnerável como, talvez, Blanche estivesse na sua chegada. Blanche, ao cabo, é a perdedora, fato que ela tentará reaver na cena seguinte.
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A cena 4 é quase um exercício de retórica. Blanche tenta, a todo custo, fazer a irmã desistir do casamento e ir embora. Trabalho inútil, como se podia perceber desde a cena anterior, quando Stella, visto o estado do seu marido, volta pra casa e tem uma calorosa noite de amor com ele. Aqui nós conhecemos o caráter preconceituoso e a capacidade de julgamento de Blanche. Ela, em um de seus momentos de verborragia, discorre longamente sobre de que forma ela encara a figura do cunhado e de seus amigos, adjetivando-os, no mínimo de gorilas. Stanley, por acaso escuta, junto com a platéia, tudo o que Blanche pensa a seu respeito e, então, parte para um jogo mais ofensivo, sabendo que joga na vantagem de estar em casa e conhecendo o campo de ataque do adversário. Stanley simula a sua chegada em casa, Stella recebe-o calorosamente e Stanley faz questão de mostrar que aquele prêmio, Stella, já é dele. Mais uma vitória de Stanley. Dois a dois.
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Aqui, e, talvez, eu não precise ir mais longe, claramente, a competição está oficializada, bem como os oponentes. Sabemos, também que ambos combatem em pé de igualdade. Que aquelas fragilidade e delicadeza que Blanche mostrava na sua entrada desapareceu (outro indicador da importância da entrada dessa personagem: ela reverbera em todo o espetáculo; aquela leitura primeira que o espectador teve de Blanche e de Stanley perspassam todo o entendimento). A oposição das personagens passa, agora, a ser entre iguais. É importante perceber o movimento de aproximação do caráter dessas duas personagens, que, apesar de absolutamente parecidos (ele é o rei da floresta, ela, a gata-do-mato) não deixam de ser dois. Dois que, orbigatóriamente, dadas as circunstâncias, precisam coexistir por dois fatores, um: como recurso de dramaturgia; dois: o que diz respeito a própria história narrada.
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É preciso, para que a peça aconteça, a chegada de Blanche, e mais, as descobertas que são feitas a seu respeito, apontando para um caráter passível de dúvidas, aliás, de todas as dúvidas. É vital para a peça, como tal, que ela, ao mesmo tempo que é absolutamente parecida com Stanley, seja absolutamente oposta. Oposição essa dada pelos momentos de fuga e devaneios. É importante que essas descobertas sejam feitas e propagadas por Stanley, afinal, é ele a figura ameaçada. E, por que continuar ameaçado se eu estou jogando em casa com todas as armas a minha disposição? A crueldade de Stanley (que nos faz sentir pena de Blanche, ao final, como pretendia Tennessee) reside, unicamente, no fato de ele não devanear, por ser absolutamente racional, agindo, assim, da maneira oposta a de Blanche que, por ser impulsiva, age, quase sempre, por instinto de sobrevivência. É esse tipo de atitude que nos causa catarse, é saber que ela fez tudo o que fez para sobreviver e que, contrariamente, Stanley fez o que fez para (vou usar a expressão, apesar de não ser, exatamente, isso) se vingar por "tudo que ela o fez engolir".
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Sem essa aproximação dos caráteres de ambos, não haveria embate. Stnaley seria o marido provedor, Blanche seria a agregada e tudo se daria de forma passiva. Todas as batalhas cairiam no campo do patético. Logo, essa união de estranhos (com algumas, ou muitas, proximidades) é um dos motes fundamentais desse "Bonde", é o oxímoro que é absolutamente vital para a grandiosidade da obra e, conseguintemente, a compreensão de que, apesar de opostos, os dois tem um muito de próximos, é vital para a compreensão da obra em sua grandiosidade.
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* Apropriação de um título do semiólogo Patrice Pavis in.: Dicionário de Teatro. São Paulo: Perspectiva, 2007, p. 83.
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[1] WILLIAMS, Tennessee. Um bonde chamado Desejo. Tradução de Vadim Nikitin. São Paulo: Peixoto Neto, 2004. p.59.
[2] Idem. p. 125.
[3] Idem. p. 125.
[4] Idem. p. 62.

domingo, 6 de setembro de 2009

Iluminação um:

quando um lugar de passagem vira morada fixa.
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(e nada é mais lugar de passagem do que)
um ponto de ônibus estava se virando morada ou pernoite de uma
negra,
magra,
suja,
mas muito ela, mulher.
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[o bicho, meu Deus, era um homem!]