domingo, 12 de setembro de 2010

Daquele (meu) tempo

Lembro, com muita saudade, daquele bailinho onde a gente dançava bem agarradinho, onde a gente ia mesmo é pra se abraçar. Você com laquê no cabelo e um vestido rodado e aquelas anáguas com tantos babados (que você se sentava só pra me mostrar). E tudo que a gente tranzava eram três, quatro cubas. Eu era a raposa, você era as uvas: eu sempre querendo seu beijo roubar. Por mais que você se esquivasse, eu tinha certeza que no fim do baile, na minha lambreta, aquele broto bonito ia me abraçar.
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Quando a orquestra tocava "Besame mucho", eu te apertava e olhava seu busto dentro do corpete querendo pular. Eu todo cheiroso à Lancaster e você à Channel. Eu era um menino, mas fazia o papel de um homem terrível, só pra te guardar.
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(...)
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E ao chegar em tua casa, em frente ao portão, um beijo, um abraço, minha mão, sua mão, com medo que o velho pudesse acordar. A pílula já existia mas nem se falava, pois nos muitos conselhos que a sua mãe te dava, tinha um que dizia: só depois de casar.

A raposa e as uvas
Reginaldo Rossi

3 comentários:

  1. tensão pós-bailinho: ela só pensa em bailar, bailar, bailar, bailaaaaar... ♫

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  2. Ah... que delícia de frescor... acho que nós nunca soubemos ao certo como é essa sensação...

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